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Foto do escritorKátia Boroni

Falcoaria no Paraguai



Originalmente publicado em Março 2017

por Kátia Boroni.


QUEM SÃO ELES

Tatiana Quevedo Maria Rivarola é arquiteta, mora em Assunção Paraguai e é casada com

Raul há um ano. Ela conheceu a Falcoaria graças ao seu marido, e a pratica desde que

o conheceu há 5 anos. Ela sempre teve um grande amor pelas aves e o sonho de poder

pousá-las em sua mão. O amor pelas aves esteve presente em seu casamento, que foi

realizado com o tema da Idade Média, com falcões e corujas na igreja. O que ela mais

ama na falcoaria é o forte vínculo criado com o falcão, a confiança mútua entre um animal selvagem com o ser humano, a satisfação de caçar com eles.


Raul German Palacios Princigalli é veterinário e falcoeiro, de Assunção Paraguai. Ele tem uma empresa chamada Raptor que realiza controle de Fauna no aeroporto internacional de Assunção há 5 anos, e em outras empresas também. O que ele mais ama na falcoaria é a interação entre predador e presa.





INÍCIO NA FALCOARIA

Tatiana começou há 5 anos quando conheceu Raul e imediatamente se apaixonou pelo mundo da falcoaria. Suas primeiras aves foram uma coruja (Otus choliba) e um falcão quiriquiri (Falco sparverius) com o qual ela caçou sua primeira presa silvestre.

O interesse de Raul pela falcoaria começou quando ele era muito pequeno, aos 11 anos, quando ele leu em uma enciclopédia o significado da palavra falcoaria, e isso foi como um chamado especial para ele, e assim ele percebeu que era isso o que ele queria fazer para o resto de sua vida. Foi assim que ele pesquisou sobre o assunto, entrou em fóruns Internacionais de falcoaria e aos 16 anos teve seu primeiro falcão, um quiriquiri (Falco sparverius) com o qual apenas caçou insetos, logo ele teve um falcão de coleira (Falco femoralis) com o qual já conseguiu realmente caçar.


Tatiana já voou muitas aves em seus cinco anos como falcoeira, e ela nos conta sobre a

sua experiência: "Eu voei falcões, corujas de várias espécies, falcão de coleira e agora

estou treinando um falcão morcegueiro (Falco rufgularis), os quais são muito nervosos e tem um metabolismo super-acelerado, mas eles são extremamente ágeis e caçadores excelentes".


A ave de rapina mais difícil que Raul já voou foi um falcão peregrino pálido, com o qual

ele viveu muitas histórias: "A ave mais difícil que eu já voei foi um falcão peregrino pálido, foi

difícil já que ele não parava de voar se afastando e percorria grandes distancias. Em uma ocasião o rastreei por 40km. Esta é uma das várias histórias que passei com este falcão, como em uma oportunidade que ele também voou longe, foi capturado por algumas pessoas e o encontrei amarrado em uma janela da casa de um aldeão perto do

aeroporto".


Hoje Tatiana voa um falcão morcegueiro (Falco rufigularis) e um falcão quiriquiri (Falco sparverius) e ela tem o desejo de voa um peregrino no futuro: "Minha idéia é voar falcões peregrinos, mas antes quer praticar bastante com aves mais fáceis, já que um peregrino exige muito tempo e dedicação. Mas eu sempre me esforço para poder trabalhar e no meu tempo livre praticar a falcoaria."


Raul atualmente está voando um falcão morcegueiro, um peregrino pálido, uma águia chilena, e está amansando um açor e uma águia real. E ele tem mais planos para

o futuro: "Já que graças a Deus meu trabalho é com a falcoaria eu posso dedicar muito tempo às aves. E algum dia eu gostaria de poder manejar um accipiter bicolor."


FALCOARIA NO PARAGUAI


Como é a falcoaria no Paraguai e quais são os principais desafios para o crescimento da Falcoaria no seu país?

A Falcoaria no Paraguai está se tornando conhecida, Raul introduziu a falcoaria no

Paraguai, antes ninguém conhecia o tema e confundiam com outras coisas como

costura (sastrería em espanhol) ou cestaria (cestería em Espanhol), (risos). Atualmente

temos um grupo de pessoas simpatizantes e que querem aprender. Os principais

desafios são a conscientização das pessoas sobre as aves de rapina, já que não existem

leis para apoiar esta arte, muitas pessoas acreditam que um falcão pode ser um

animal de estimação e o capturam da natureza de forma irresponsável, inclusive os vendem

ilegalmente. Nós queremos que leis sejam criadas para apoiar a prática e a conservação em nosso país.


Como é a aceitação do grande público em relação à falcoaria no seu país?

A falcoaria gera um grande interesse no nosso país, a maioria das pessoas fica

encantada com ela, se surpreendem e querem conhecer mais sobre o tema, por

isso estamos constantemente realizando palestras, eventos, festivais medievais com

demonstrações de caça, etc. Nós difundimos em todos os meios possíveis de

comunicação e auxiliamos os interessados na prática.


Qual a importância da educação ambiental com aves de rapina em seu país?

A educação ambiental e de conservação é extremamente importante em nosso país.

Desde pequenos é importante sensibilizar e capacitar às crianças e pessoas sobre o

tema, através do contato direto com as aves de rapina, mostrando seu modo de

vida, habitat e modo de caça. Já que hoje em dia muitos capturam da natureza para

vender em mercados como animais de estimação. Também é muito importante

divulgar a sua alimentação, já que muitos acreditam que devem comer carne de vaca,

alimentando-as com isso e ocasionando assim a morte do animal. Através da difusão

da falcoaria que temos realizado já há vários anos, nós vamos criando consciência

às pessoas, tanto sobre a conservação das aves como a do seu ambiente.


Como é o trabalho da empresa Raptor hoje no Paraguai. Além do controle no

aeroporto, que tipo de serviços vocês oferecem?

Graças à falcoaria surgiu a empresa Raptor, com a qual iniciamos com o controle

biológico de aves no Aeroporto Internacional Silvio Pettirossi nos últimos 5

anos, antes disso não existia um método de controle de aves lá. Graças à importância

deste trabalho e seus bons resultados, surgiu o interesse de fábricas, armazéns,

edifícios, casas, etc. de solucionar o problema que tinham com pombos (Columba livia), porque os métodos existentes não forneciam uma solução bem sucedida para o problema. Então idealizamos técnicas de controle que são utilizadas com sucesso e com 100% de eficácia conforme o caso.


O método de trabalho é o seguinte: se realiza uma visita ao local de infestação, se

avalia e logo uma proposta adequada é encaminhada. Desenvolvemos vários métodos de bloqueio com malhas antipombas e uma fita que emite impulsos elétricos que se aderem à superfície, então quando a pomba pousa, recebe a descarga e já não volta mais a pousar naquele local.


Quais são as vantagens do uso da falcoaria para o controle de fauna nociva nos aeroportos? Através do voo periódico dos falcões, momentos antes e após o pouso e

decolagem das aeronaves, se consegue dissipar e afugentar uma grande quantidade

de bandos de aves que atravessam a pista ou se instalam nas proximidades,

especialmente na época de migração, além do que a falcoaria é um método totalmente

orgânico, não é prejudicial aos seres humanos e não produz ruído excessivo,

como bombas ou foguetes. É a solução comprovadamente mais eficaz.


O que significa o nome TYGA e porque escolheram este nome?

Tyga significa Thank You God Always (acrónimo em inglês), em português

significa “Obrigada Deus para sempre”, em homenagem a Deus, uma vez que as

chances de ser capaz de importar uma águia real ao Paraguai eram quase

nulas, e com muito esforço e, é claro, muita fé que conseguimos que tudo se

resolvesse para que a trouxéssemos.


Por que vocês decidiram importar uma águia dourada para o uso em controle

de aves nos aeroportos?

Além de ser um sonho realizado poder manejar uma águia real, é um desafio completo. O uso que daremos a ela no aeroporto é de marcar território e assustar as aves de grande porte, tanto nas instalações do aeroporto como nos seus arredores, especialmente na época da migração, na qual registramos grandes bandos de aves que não se assustam com a presença de falcões menores, e até mesmo os irritam, como o Carcará (Caracara plancus) e o kara kara e o urubu de cabeça preta (yryvu em guaraní, Coragyps atratus), assim como mamíferos e répteis de médio porte que circulam pelos arredores. Queremos inovar e melhorar sempre nosso serviço, e por isso e é por isso que estamos comprometidos com a introdução da águia para controlar estas espécies. O seu uso em outros aeroportos do mundo pode ser muito útil para as mesmas razões, já que o maior problema se dá nas épocas de migração de pássaros e muitas são de grande porte.


Como vocês avaliam a importância da chegada de Tyga para a falcoaria no

Paraguai e na América do Sul?

É muito importante a nível nacional e regional, a chegada de Tyga chamou

muita atenção na mídia e nas redes sociais, onde a sua chegada se tornou

viral, é um passo muito grande para a falcoaria no Paraguai, porque pela

primeira vez um falcoeiro paraguaio adquire uma ave deste porte, e a nível

da América central e do Sul acreditamos que abrirá portas deixando um

precedente tanto de importação como de manejo e de adaptação ao clima da

região. Um exemplo de luta, perseverança e fé em Deus.


Como é o temperamento de Tyga? Quais são as maiores diferenças de

temperamento entre a águia chilena e a águia dourada?

Tyga é uma águia parental, mas que podia ver as pessoas, então ela cresceu

de uma forma que estava acostumada a ver pessoas. Ela chegou semi amansada,

e atualmente a estamos amansando e aclimatando, mas não é tão simples já

que ela pesa 6 kg com peso cheio, e é da subespécie daphanea, por exemplo, na

primeira vez que ela debateu ela me impulsionou para frente e conseguiu me

fazer levantar da cadeira. Ela também aperta fortíssimo a luva deixando várias marcas de suas garras, parece que ela vai quebrar o seu osso. Por outro lado a águia chilena que

temos é imprintada e é extremamente gentil e dócil, é muito apegada aos seres

humanos, é um macho e pesa 1,6 kg, mas é muito agradável com as pessoas,

deixa qualquer pessoa manejá-lo e tocá-lo, é especialmente usado em

exposições já que seu voo é imponente e não é perigoso.


Tyga foi importada da Eslováquia. Porque decidiram importa-la deste país

e como foi o processo de importação?

Nós a trouxemos da Eslováquia já que fizemos nossas investigações e nos recomendaram trazê-la de lá, porque o filhote do criatório de onde a trouxemos é um dos melhores (parental, os pais o alimentam mas o filhote pode ver pessoas. ), é de linhagem caçadora e é da subespécie daphanea originária do Cazaquistão, ou seja ela é da maior subespécie de águias douradas do mundo, a sua beleza, plumagem escura e coroa dourada que já pode ser apreciada desde os exemplares jovens, é digna de admiração. O processo, tanto para obter uma águia assim, a papelada e para conseguir uma companhia aérea que pudesse transportá-la foi difícil, demorou muito tempo desde que nós decidimos trazê-la até que fosse possível trazê-la. Para ser sincero até três dias antes da sua chegada nos disseram que não seria possível e por isso nos consideramos um milagre, tudo o que se relacionava com sua importação foi muito complicado, tive que realizar vários voos e providenciar muita papelada, e é por isso que agradecemos a Deus pela sua chegada, foi um milagre que tenha chegado bem. Ela voou da Eslováquia para Espanha, ali ela teve que ficar vários meses e com a ajuda de um falcoeiro espanhol que cuidou dela até que todos os documentos fossem requeridos no Paraguai, outra complicação foi a companhia aérea, já

que não existem voos diretos que transportem aves de rapina da Espanha para o Paraguai, e ela teve que fazer uma escala na Colômbia para depois vir até Assunção, foi uma verdadeira Odisséia. #DF



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