O perigo do Imprint
Há muitas pessoas que encontram aves caídas de ninhos ou “abandonadas” e as levam para casa para salvá-las. Sabemos que quem coleta (ou seja, captura uma ave da natureza ou qualquer outro animal silvestre) está cometendo crime ambiental, mas eu quero alertar às pessoas bem intencionadas, que querem apenas cuidar da ave por algumas semanas e depois solta-la novamente na natureza. Infelizmente essas pessoas não tem ideia de como estão colocando a vida desta ave em risco, sendo que o que elas deveriam ter feito era chamado ou levado à ave aos órgãos ambientais competentes.
Uma ave de rapina ao ser alimentada erroneamente irá morrer, ou sua saúde ficará debilitada para sempre. As pessoas por falta de conhecimento dão qualquer tipo de alimento para um rapinante (gavião, falcão, águia ou coruja) como restos de comida como arroz e feijão, carne moída cozida, frutas e vegetais, e poucos são os que dão carne crua, mas ainda sim carne de supermercado não manterá a ave viva e saudável por muito tempo.
Mas o problema maior é que as pessoas não tem idéia como o contato intenso com o seu humano prejudicará a vida livre desta ave posteriormente. Os danos causados serão irreversíveis, e a ave cuidada com zelo irá ter uma morte rápida e certa ao ser solta. Mas o que pode ter de mal em apenas alimentar a ave? É aí que entra a questão do imprint e do seu impacto no desenvolvimento de uma ave de rapina.
“O termo imprinting foi criado pelo etologista Konrad Lenz que nos anos 30 do século XX começou a estudar o comportamento de algumas aves. Ele observou que ao nascerem, essas aves, passavam a se identificar com o primeiro animal que vissem se movimentando, em geral a sua mãe. Entretanto, ele notou que podia acontecer de por algum motivo essa identificação ocorrer até mesmo com um animal de uma outra espécie, e essas aves, especialmente patos e gansos, passavam a segui-la. Esse primeiro ser que eles viam se movimentando causava uma marca, uma impressão, um imprinting nessas aves, que determinava o seu comportamento. Konrad Lenz viu nessa característica um ato instintivo crucial para a sobrevivência dos recém-nascidos.”
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Portanto, não adianta só alimentar até a ave crescer e depois soltá-la, você não salvou a ave, você interferiu e a transformou em uma ave quase domesticada, que não irá sobreviver na natureza. Ela provavelmente não conseguirá encontrar alimento, não irá reproduzir e portanto isso terá impacto na sobrevivência da espécie, e o pior, ela irá procurar companhia humana, e isso a colocará em grande risco de ser morta ou capturada por pessoas inescrupulosas.
E será que aquele filhote realmente precisava da sua ajuda? Um filhote que aparente estar bem fisicamente não foi necessariamente abandonado pelos pais.
“É extremamente importante agir com cuidado se você encontrar uma ave de rapina bebê. Se você encontrar um filhote de rapinante totalmente emplumado no chão, é muito provável que a ave está aprendendo a voar. Os rapinantes adultos geralmente os recuperam. Se você encontrar um filhote sem penas que ainda não abriu os olhos, coloque a ave de volta em seu ninho e chame os órgãos competentes.”
Montana Raptor Conservation Center (tradução nossa)
Cuidar de um filhote de rapinante exige conhecimento, técnica e muito estudo, não é algo que você possa fazer facilmente, pelo contrário.
"No MRCC, fazemos um grande esforço para evitar que as aves de rapina resgatadas façam o imprinting com os seres humanos. Usamos bonecos, máscaras e luvas (dependendo da espécie) para conduzir a alimentação. Nós alimentamos o filhote de ave de rapina com a comida que eles comem na natureza e permitimos que eles aprendam a rasgar sua comida. Nosso objetivo é garantir que o jovem rapinante possa ser devolvido à natureza."
Montana Raptor Conservation Center (tradução nossa)
O Instituto Espaço Silvestre lançou recentemente uma campanha exatamente sobre o perigo de soltar animais silvestres sem conhecimento e critério adequado.
"A soltura irresponsável de animais silvestres pode trazer sérios riscos ecológicos e colocar diversas vidas em risco! Além dos problemas relacionados à disseminação de doenças, também existem os riscos de introduzir um linhagem genética diferente da população local, introdução de espécies exóticas, problemas comportamentais, limitação de território e recursos para que esse animal possa viver no local de soltura e etc. Em relação ao individuo solto, esse precisa estar preparado para se locomover, procurar alimentos em sua forma selvagem, ter medo de humanos, reconhecer predadores entres outras habilidades essenciais para sua sobrevivência. Tudo isso requer preparação e realmente não é tão simples assim! Não compre ou prenda animais da natureza, porque soltar não é simplesmente abrir a gaiola! Animais silvestres mantidos ilegalmente podem ser entregues, sem penalidade legal, no órgão ambiental de sua cidade."
Instituto Espaço Silvestre.
Portanto, se você realmente ama as aves de rapina, ao encontrar um filhote ou ave ferida, ligue imediatamente para os órgãos competentes e eles te auxiliarão sobre como proceder e onde levar a ave. As aves agradecem!
Referências
Definições de Imprinting
IBAMA
Instituto espaço silvestre
Montana raptor conservation Center
PM Ambiental Brasil
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