O ser humano muitas vezes toma decisões favoráveis do ponto de vista econômico, mas ao mesmo tempo desastrosas do ponto de vista ambiental. A verdade é, nossa espécie é a única que destrói o planeta e a única que leva à extinção outras espécies de forma alarmantemente rápida. Ainda bem que não somos todos assim, há muitos que se dedicam a salvar a natureza, e a ajudar a sobrevivência de espécies animais ao redor do mundo.
O uso indiscriminado de substancias químicas nas lavouras mata muito mais espécies do que os insetos para os quais elas são destinadas. O animal mais rápido do planeta o falcão peregrino, teria sido totalmente extinto dos EUA se não fosse uma ação conjunta entre cientistas e falcoeiros, que graças aos seus esforços repovoaram os céus americanos com estas aves magnificas. Casos assim nos enchem de esperança e mostra que ainda há tempo de salvar o nosso planeta, se juntarmos nossa vontade, habilidades e experiências para um objetivo comum.
Conheçam a história da fundação do Fundo Peregrino, fundado em 1970 por Tom Cade, e que já salvou da extinção o Falcão Peregrino, o Falcão de coleira e que continua a pesquisar e salvar dezenas de espécies de aves de rapina ao redor do mundo. O texto a seguir foi traduzido e adaptado por mim, e a sua versão original em inglês escrita por Alan Gates está disponível aqui.
Abraços,
Kátia Boroni
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O Fundo Peregrino
Por Alan Gates. First Published in the Falconers & Raptor Conservation Magazine Issue 31 Summer 1997.
Disponível em: http://www.eaglehunter.co.uk/Articles/The-Peregrine-Fund.htm
Traduzido e adaptado por Kátia Boroni para os sites:
Como espécie, o homem tem a capacidade intuitiva de estragar o seu ambiente em um ritmo cada vez maior. Pela televisão podemos ver um desastre atrás do outro, todos causados pelo homem. Como um mero indivíduo frequentemente podemos nos sentir inadequados a medida que estes terríveis eventos se desdobram, com um sentimento de impotência para a prevenção, e uma inadequação para a enormidade da tarefa de recuperação.
Nem todos os desastres ambientais são de impacto tão imediato, alguns insidiosamente se aproximam de nós, desconhecem o efeito cumulativo e a nossa atenção não é focada até que a eminência de colapso de uma espécie alerta os indivíduos que monitoram o meio ambiente. Então, esses mesmos poucos indivíduos dedicados, enfrentam uma enorme e difícil luta para convencer o resto da população a mudar suas atitudes antes que seja tarde demais.
O falcão peregrino
Em 1970, Tom Cade, então professor de ornitologia na Universidade Cornell nos Estados Unidos, se deparou com um destes cenários. Após o uso generalizado de DDT e outros pesticidas de hidrocarbonetos clorados, a população de falcões peregrinos despencou durante as décadas de 50 e 60. No final dos anos 60, o falcão peregrino estava extinto no leste dos Estados Unidos e reduzido em 90% no oeste.
O “Peregrine Fund” (Fundo Peregrino), nasceu da preocupação compartilhada de Cade, seus alunos e outros falcoeiros eminentes, que desenvolveram um método de reprodução de peregrinos em cativeiro. Juntamente com os métodos pioneiros de sucesso para a libertação dos falcões criados em cativeiro para a natureza, eles tornaram este o programa de conservação, soltura, reprodução e progenitura mais bem sucedido do século XX.
Até o momento, o Fundo liberou mais de 4.000 falcões criados em cativeiro em 28 estados, o Peregrino beirava a extinção, mas o seu destino foi transformado por indivíduos dedicados, cuja visão e determinação obstinadas ajudaram a reparar os danos causados pelo uso indiscriminado de substancias químicas no nosso delicado ecossistema. O falcão peregrino está bem e verdadeiramente salvo nos Estados Unidos, e agora foi proposto que ele seja removido da lista de espécies ameaçadas de extinção.
Os falcoeiros devem se orgulhar da sua contribuição, que levou ao maior e mais bem sucedido projeto de reprodução em cativeiro para posterior reintrodução de uma espécie em extinção, em qualquer lugar do globo.
Águias carecas e falcões de coleira
Seguindo o sucesso com a reprodução e soltura dos falcões peregrinos, houve também solturas bem-sucedidas de Águias Carecas, e o Fundo ajudou a salvar o Falcão de Maurício (Falco punctatus) da extinção. O Fundo conseguiu expandir a sua capacidade de atuação graças à sua nova instalação em Boise, denominada Centro Mundial de Aves de Rapina.
O Falcão de coleira (Falco femoralis) antes existia em todo o sudoeste dos Estados Unidos e no México. Quando os espanhóis chegaram às pastagens do Texas e do Novo México, o falcão de coleira fazia parte da paisagem. Ele diminuiu drasticamente durante o início deste século e todos os que permaneceram nos Estados Unidos foram exterminados devido ao amplo uso de inseticidas de hidrocarbonetos clorados que ameaçou também o falcão peregrino. Agora o falcão de coleira é raramente visto nos EUA e no norte do México desde a década de 1940. Graças aos esforços do Centro, mais de 100 falcões de coleira já foram reintroduzidos.
A pesquisa contínua pode ser benéfica para todos, já que o Falcão de coleira representa um importante "indicador" da qualidade do meio ambiente. Com a sua posição ecológica única no topo da pirâmide alimentar, as amostras de sangue colhidas desta espécie, ao longo do tempo, podem fornecer aos biólogos uma noção importante sobre o nível relativo de contaminação ambiental encontrada em seu habitat. Os níveis de contaminantes são particularmente preocupantes no sul do Texas, que apresenta a maior incidência de defeitos de nascença do tronco encefálico humano encontrados em qualquer lugar nos Estados Unidos. As amostras de sangue tiradas dos falcões de coleira antes de serem soltos, e a cada seis meses após a sua soltura, podem fornecer algumas respostas para esse problema.
O condor da Califórnia
Na década de 1980, só restavam 21 ou 22 condores da Califórnia (Gymnogyps californianus) na natureza ou no cativeiro. Ficou claro para os conservacionistas que medidas de emergência deveriam ser tomadas para salvar esta espécie da extinção. Em 1987, todos os condores selvagens restantes foram capturados para garantir a sua segurança e para servirem como pais em programas de reprodução em cativeiro no Zoológico de Los Angeles e no Parque San Diego Wild Animal. Os Condores logo se adaptaram ao seu ambiente cativo e a primeira reprodução bem sucedida dos Condores da Califórnia foi realizada em 1988.
Em 1995, a população do Condor cresceu para 103 indivíduos e, em 1992, os biólogos do programa de recuperação começaram a reintroduzir os jovens nascidos em cativeiro à natureza em locais selvagens, onde a espécie vivia anteriormente na Califórnia.
O sucesso chegou na temporada de 1996 com a primeira incubação no Centro de um Condor da Califórnia, foi o primeiro caso de reprodução com sucesso fora do estado da Califórnia desde a década de 1930, quando ainda havia uma pequena população na Baja California, no México.
Os pais do filhote, Tecuya e Shasta, são o casal mais antigo de condores do Centro (12 e 6 anos, respectivamente), e este foi o seu primeiro ovo fértil. No ano anterior, esse casal tinha colocado dois ovos inférteis, e o segundo ovo foi substituído por um ovo fértil de Condor Andino obtido do Zoológico Nacional. O Condor Andino é um abutre similar proveniente da América do Sul. O casal incubou e criou o jovem condor com sucesso. Este excelente resultado deu ao Centro confiança para deixar os condores com o seu próprio ovo no ano seguinte, que foi chocado com sucesso. Outros casais de condores nas instalações do Centro botaram ovos inférteis, e mais um casal chocou e criou um Condor Andino adotado.
Em cooperação com o U.S. Fish & Wildlife Service dos EUA, os Condores da Califórnia se propagaram no San Diego Wild Animal Park e no Zoológico de Los Angeles, e juntamente com o jovem condor do Centro foram levados para uma nova casa no Arizona, no Vermilion Cliffs perto do Grand Canyon.
Os condores foram colocados em seis "apartamentos" de madeira compensada que davam para um recinto de soltura de 20 x 40 pés. Após um período de aclimatação de vários dias, os condores foram liberados a entrarem no recinto de soltura para se misturarem e se familiarizarem melhor com os membros da família.
A soltura foi supervisionada pelo Fundo Peregrino, e esses condores foram os primeiros de suas espécies a serem vistos no Arizona desde 1924. O Fundo está desenvolvendo sua experiência de soltura adquirida nos últimos vinte anos, já que foi a primeira vez que um grupo de condores não criados à mão (imprintados) foram soltos na natureza.
Pesquisadores acompanharam de perto o desenvolvimento das habilidades sociais e de sobrevivência desta população para refinar as técnicas de criação e reintrodução em cativeiro.
Harpia
A Harpia é vulnerável à extinção local porque a sua taxa de reprodução é muito lenta. Três anos se passam entre a produção de um filhote em uma árvore de nidificação e a seguinte tentativa de nidificação. Essas poderosas aves de rapina são ameaçadas pela fragmentação e destruição de florestas e por pessoas que atiram nelas.
O Fundo Peregrino mantém registros de avistamentos dessas águias raras para melhorar a compreensão de sua distribuição. O trabalho de campo na Venezuela e no Panamá está fornecendo dados importantes sobre esta espécie na natureza. Onze ninhos no Panamá e vinte ninhos na Venezuela foram estudados. Com a assistência da NASA, transmissores de satélite foram anexados em onze águias jovens e elas foram rastreadas pelos satélites ARGOS. Esta informação será utilizada para determinar a quantidade de área necessária para a sua sobrevivência.
By Mateus Hidalgo (Own work) [CC BY-SA 2.5 br (http://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.5/br/deed.en)], via Wikimedia Commons
Projetos atuais
Hoje o Fundo Peregrino está trabalhando na reintrodução das espécies:
falcão quiriquiri (Falco sparverius)
Falcão de coleira (Falco femoralis)
Abutres Asiáticos
Condor da California (Gymnogyps californianus)
Aves de rapina do Leste Africano
Falcão Gyr (Falco rusticolus)
Águia Harpia (Harpia harpyja)
Aves de rapina de Madagascar
Falcão de peito laranja (Falco deiroleucus)
águia-das-filipinas, (Pithecophaga jefferyi)
Buteo ridgwayi (Buteo ridgwayi)
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