Entrevista com Anna Sanchez, autora do livro Mentes Nocturnas
Anna Sanchez é a autora do livro Mente Nocturna e atualmente dirige o Centro de Estudo Natural'Mente, dedicado principalmente ao estudo do comportamento das aves de rapina noturnas (corujas). Em sua entrevista, ela nos diz como sua paixão pelas corujas surgiu, e como devemos interagir com elas.
Por Kátia Boroni, para www.diariodefalcoaria.com
ENTREVISTA ANNA SANCHEZ
Anna Sanchez foi criada na Suíça, onde a falcoaria não era habitual. Quando criança, ela começou a interagir com aves de rapina selvagens, e ela passou horas com elas, tentando entender seu comportamento. Seu primeiro contato com a falcoaria foi quando ela estava de férias na Espanha, mas só quando eles se mudaram para a Espanha que ela começou a se dedicar seriamente à Falcoaria. Depois de uma longa jornada, hoje ela dirige o Centro de Estudo Natural'Mente, dedicado principalmente ao estudo do comportamento das aves de rapina noturnas.
Como surgiu sua paixão pela falcoaria? Qual foi a sua primeira ave de rapina?
A verdade é que nunca cheguei a me apaixonar pela falcoaria em si. Ao ter minhas primeiras aves, os falcões peneireiros (Falco tinnunculus), os quais tanto conhecia em estado selvagem, me encontrei em um dilema. Eu não suportava vê-los em cativeiro e era difícil para eu lidar com esse sentimento. Pensando bem e tendo uma ideia mais ampla deste mundo, entendi que essas aves, nascidas em cativeiro, sempre seriam cativas. A partir deste momento, meu objetivo era tornar a vida destas aves o mais confortável possível, pelo menos em minhas mãos.
Por que, depois de um primeiro contato com uma coruja que não tinha mais vida aos seus olhos, você decidiu mudar tudo e dedicar-se apenas às corujas?
Sim, uma coruja bufo-real (Bubo bubo) que sofreu muito com maus tratos com os proprietários anteriores, e que estava com um amigo meu. Nessa época as corujas não chamavam a minha atenção de maneira nenhuma, mas eu senti tanto infortúnio neste olhar que isso me impactou. Na mesma noite, passei horas procurando informações nos fóruns, comprovando que havia um problema de compreensão com estas aves. Eu decidi pegar uma coruja bufo-real e trabalhar com ela, e isso foi como uma revelação. Tudo o que aprendi quando criança interagindo com aves de rapina, conseguindo que elas viessem até mim quando chamadas após horas e horas de paciência, esse vínculo tão especial que tinha com elas, haviam desaparecido com a falcoaria e seus métodos (não estou dizendo que esses métodos eram ruins, mas eu não encontrava o que eu queria com eles). De repente, com esta coruja, encontrei um ser que não se deixava manejar com tanta facilidade, rejeitando o que uma ave de rapina diurna aceitaria. Comecei a criar um vínculo com esta coruja como eu costumava fazer quando era criança, com muita paciência, prudência e tempo. Foi um sucesso, e isso me devolveu essa paixão e admiração que estava um pouco perdida. Eu vi que havia muito a compreender e muito a estudar. A partir daí eu só me dedicava às corujas com grande entusiasmo, queria entendê-las, tornar sua vida mais justa.
Qual é a sua espécie de coruja favorita?
A coruja dos urais (Strix uralensis), sem dúvida, mas também uma nova que chegou ao centro, uma coruja bufo-real faraônica (Bubo ascalaphus). Ao perceber que as aves noturnas não tinham o respeito dos caçadores e do clube, pensei que faze-las caçar era a melhor solução para que recuperassem um certo prestígio, e sendo muito próxima da natureza, acho que deveria ser a única condição para mantê-las. Eu me dedico às corujas nórdicas, já que sua condição de vida muito difícil dá-lhes certa propensão à caça na falcoaria. Além disso, as dificuldades que elas podem encontrar vivendo fora do seu clima são um problema de estudo digno para melhorar sua vida em cativeiro. As corujas dos Urais me encantaram imediatamente devido ao seu forte caráter e suas habilidades, são pequenos demônios disfarçados de anjos. A coruja bufo-real faraônica (Bubo ascalaphus) mostra um comportamento mais animado do que a europeia, e nuances muito interessantes relacionadas ao seu habitat, o deserto.
Como surgiu a ideia de escrever seus livros? Como o público os recebeu?
A verdade é que eu nunca tinha pensado em escrever um livro. No começo, eu compartilhava o meu trabalho para ajudar pessoas e animais. Pouco a pouco, as demandas se tornaram cada vez mais numerosas. Eu até aprendi inglês para poder ajudar no exterior. Aparentemente, meus conselhos funcionavam e meu ponto de vista e meus estudos tinham fama internacional. Houve um tempo em que eu passava mais de 5 horas por dia aconselhando pessoas, e percebi que não era possível continuar assim. Eu decidi escrever um livro sobre a base do comportamento que eu estava tentando explicar às pessoas que me pediam da melhor forma possível, mas que me tomava muitíssimo tempo. Foi uma forma de economizar tempo, sem ter que explicar tudo desde o início e poder me concentrar em encontrar soluções rapidamente, se as pessoas não conheciam minha maneira de trabalhar, isso não seria possível. Eu não esperava de forma alguma que ele teria tanto sucesso, já que ele trata de uma especialidade muito restrita.
Quais são os seus planos futuros?
Compreender e compreender mais essas aves, e fazer com que elas sejam cada vez mais compreendidas. Há muito trabalho à frente, mas acho que as mentalidades estão mudando pouco a pouco e isso é muito encorajador. Seu bem-estar é o meu único plano para o futuro neste assunto.
Que mensagem você dá aos apaixonados por corujas?
Que eles aprendam muito a manipular e trabalhar com as aves de rapina antes de se lançarem a uma ave tão complexa. Que saibam que tudo o que aprenderam servirá, mas que deverão aprender muitíssimo mais para que possam entender estes animais com comportamento totalmente oposto, e sobre tudo que o considerem como um verdadeiro guerreiro da noite, porque é isso o que eles são.
Livro Mente Nocturna
O que é mais marcante em seu livro é a maneira como você tenta mostrar como a mente de uma ave de rapina noturna funciona inclusive nos dois primeiros capítulos do livro a história é contada por uma coruja bufo-real. Por que você decidiu começar seu livro assim?
Levei muito trabalho para encontrar uma solução para não fechar portas, mas em algum momento tive que apontar o que estava errado. Era importante poder dizer coisas sem causar danos, deixando, de esta maneira, as mentes abertas à mudança. Então, eu decidi que era melhor não dizer isso eu mesma, mas a coruja. E funcionou incrivelmente bem, na verdade.
Você diz que "certas diferenças parecem abismais e é óbvio que os métodos tradicionais de falcoaria precisam de alguma adaptação, especialmente no início do treinamento". Você acredita que falta conhecimento das singularidades das corujas à grande maioria dos falcoeiros, surgindo daí, portanto, tanto preconceito em relação a elas, como chama-las de cabeçudas?
Exatamente, a mente das corujas funciona de uma maneira muito diferente da mente das aves de rapina diurnas e, de fato, da de muitos seres vivos. Tudo está baseado nos sentidos principais invertidos, e a sua evolução desde filhote nos mostra que o ouvido está forçado a ser o seu sentido principal. Isto faz com que não sejamos capazes de compreender a sua maneira de agir sem um enorme esforço.
Essa incapacidade nos leva a cometer erros consistentes. A perturbação do seu ouvido de dia corresponde à perturbação da nossa visão à noite, não é apenas uma questão de ver ou não ver, é todo um processo de vulnerabilidade que isso implica. Por exemplo, se assistimos a um filme de terror durante o dia, isso não nos afeta como à noite, quando não podemos dominar completamente nossos arredores. Devemos nos treinar para entender isso, e sempre considerar que é muito difícil para uma ave de rapina noturna trabalhar durante o dia.
Você pode explicar brevemente os principais pontos ao se treinar uma coruja?
Como dito anteriormente, o principal é entender suas prioridades e como elas funcionam. Criar um vínculo diferente com elas e recompensar a confiança antes do interesse em comer, nos dará uma margem suficiente quando estiver trabalhando em ambiente externo durante o dia. De fato, as aves de rapina noturnas têm um metabolismo um tanto diferente das diurnas, elas não possuem papo e a urgência de nutrição não é declarada rapidamente. É necessário saber que uma ave de rapina diurna preferirá a nossa proximidade antes de morrer de fome, e que uma ave de rapina noturna preferirá morrer de fome antes da nossa proximidade.
Também é importante saber que, para a ave da rapina diurna o movimento é a vida (fugir), e para a coruja o movimento é a morte (ser vista, sendo que sua tática é passar desapercebida). Por esta razão, uma coruja se recusa a se mover quando tem medo ou está preocupada. É uma reação totalmente instintiva e devemos ter paciência com elas em um ambiente não adaptado. A grande dificuldade envolvida na forma como elas reagem e funcionam exige que façamos um trabalho anterior com base na rotina, confiança e entrega da ave à nossa "proteção".
Sobre a fome, você diz que as corujas aguentam muitos dias sem comer, e por isso, depois de algumas semanas com o processo de reduzir o seu peso, elas só aprenderão a odiar seu treinador. Não se deve então reduzir o peso das corujas para treiná-las?
É claro que um pouco de interesse por comer é necessário para realizar o trabalho construtivo, mas de nenhum modo devemos fazer isso até que a ave esteja pronta para trabalhar no exterior. O melhor é fazer um trabalho muito respeitoso até ter certeza absoluta de que a coruja não nos teme, e isso pode levar um longo período de tempo dependendo do espécime, mas é necessário porque se a coruja nos teme e tentamos diminuir o seu peso até que ela “seja motivada pela fome”, isso pode demorar muitas semanas, ao contrário do que ocorre com uma ave de rapina diurna que cede em pouquíssimos dias.
A única coisa que conseguiremos é uma coruja que aprendeu a odiar-nos, a ter medo de nós e que só dará um salto por desespero, e então, o quê? Não teremos espaço para que ela aprenda a trabalhar no exterior e durante o dia. Em suma, devemos conseguir realizar os saltos ao punho com uma coruja com peso normal e com boas condições.
Você demostra como treinar uma coruja criada pelos pais, algo que muitos creem ser quase impossível. Como você chegou a este método tão interessante?
Quando me encontrei com uma coruja pela primeira vez, ela me devolveu a humildade que sentia quando era criança e tentava criar um vínculo com falcões selvagens. Então eu comecei a trabalhar nesse sentido, como se eu tivesse um animal selvagem e que eu tivesse que convencê-lo e mostrar-lhe que ele poderia confiar em mim. Eu tive muitas corujas selvagens ou maltratadas no início e, pouco a pouco, eu fui melhorando as diretrizes que eu respeitava na minha infância. Era a única maneira de compreendê-las, observando e tratando as mais difíceis de convencer.
Você explica que um ponto-chave para o treinamento e também para o bem-estar da coruja é a rotina. A rotina para uma ave de rapina noturna é mais importante do que para uma diurna?
Na verdade, tudo o que pode aliviar o extremo estresse que uma ave de rapina noturna sofre em nossas mãos é importante. Elas são animais extremamente solitários e nós as impomos companhia, elas ficam confortáveis e seguras durante a noite e nós as impomos agir durante o dia, sua defesa é se passar despercebida e sempre chamamos a atenção para elas, etc. A rotina oferece um refúgio de paz, gestos previsíveis, horários determinados e sinais claros.
Você acha que até hoje muitas pessoas têm preconceito e medo das corujas? Como reduzir isso?
Sem dúvida, há muitos lugares neste mundo onde essas aves são temidas ou odiadas por razões falsas, mas é algo que será muito difícil de apagar. É como a rejeição por cobras e outros animais que vem, muitas vezes, de crenças religiosas e está ancorada quase que em nossos genes. Mas estes medos ou manias se perdem pouco a pouco. O melhor é conhecer nós mesmos essas misteriosas aves, para poder explicar às pessoas o que são, para que servem e como elas vivem.
No seu centro, você também se dedica à educação ambiental. Como você valoriza a importância deste trabalho, especialmente com o uso de corujas?
Esta é uma questão importante. Aqui é um verdadeiro santuário para essas aves e nenhuma visita pública é feita. Eu faço visitas a pequenos grupos que se interessam, mas sempre e quando as aves estão em condições de suportar isso, e nos horários que determino. Não fazemos educação ambiental como se entende comumente, isto quer dizer que não vamos a escolas com aves ou fazemos demonstrações públicas. Não fazemos nunca nada que possa perturbá-las ou causar-lhes mal.
Em minha opinião, a educação ambiental é fazer com que a natureza seja conhecida das pessoas, que as pessoas a compreendam e a respeitem, ensinar a elas o que são esses animais, então, quando tenho visitantes mostro a eles o que realmente são essas aves e, no final, são as próprias pessoas que não querem incomodá-las mais, falam baixo, se movem com discrição e respeito. Claro que eles gostariam de vê-los voar, mas eles entendem que eles já têm uma sorte imensa de poderem ver um animal que nunca seria visto na natureza de tão perto. Eles saem daqui com sua compreensão de corujas aumentada. Infelizmente, escolas ou outras instituições querem mais entretenimento do que educação ambiental, e não estou disposta a ensinar que corujas são animais que gostam de carícias, que se dão bem com as pessoas e que se sentem confortáveis entre gritos e barulhos.
Interview with Anna Sanchez,
Author of the book Nocturnal Mind
Anna Sanchez is the author of the book Nocturnal Mind, and currently directs the Natural'Mente Study Center, devoted primarily to the study of the behavior of nocturnal birds of prey. In her interview, she tells us how her passion for owls started, and how we should interact with them. Anna Sanchez was raised in Switzerland, where falconry was unusual. As a child, she began to interact with wild birds of prey, and she used to spend hours with them, trying to understand their behavior. Her first contact with falconry was when she was on vacation in Spain, but it was only when they moved to Spain that she began to devote herself seriously to Falconry. After a long journey, today she runs the Natural'Mente Study Center, dedicated mainly to the study of the behavior of nocturnal birds of prey.
By Kátia Boroni, for www.diariodefalcoaria.com
How did your passion for falconry start? What was your first bird of prey?
The truth is that I never really fell in love with falconry itself. While having my first birds, the common kestrels (Falco tinnunculus), which I knew so much in the wild, I found myself in a dilemma. I could not bear to see them in captivity and it was difficult for me to deal with that feeling. On second thought and having a wider idea of this world, I understood that these birds, born in captivity, would always be captive. From this moment my goal was to make the lives of these birds as comfortable as possible, at least on my hands.
Why, after a first contact with an owl that no longer had life in its eyes, did you decide to change everything and focus only on owls?
Yes, an eagle owl (Bubo bubo) that suffered a lot from mistreatment with its previous owners, and that was with a friend of mine. At that time owls didn´t call my attention at all, but I felt so much misfortune in its look that it impacted me. At that same night, I spent hours looking for information in forums, and it proved me that there was a problem of understanding with these birds. I decided to get an eagle owl and work with it, and that was like a revelation for me. Everything I learned as a child interacting with wild birds of prey, getting them to come to me when called, after hours and hours of patience, that special bond I had with them, had disappeared with falconry and its methods (I am not saying that these methods were bad, but I did not find what I wanted with them). Suddenly, with this owl, I found a being who could not be handled so easily, rejecting what a diurnal bird of prey would accept. I began to bond with this owl as I used to do as a child, with a lot of patience, prudence, and time. It was a success, and it gave me back that passion and admiration that was a little lost. I saw that there was much to understand and much to study. From then on I only dedicate myself to the owls with great enthusiasm; I wanted to understand them, to make their life more just.
What is your favorite owl specie?
The ural owl (Strix uralensis), no doubt, but also a new one that arrived at the center, a pharaoh eagle owl (Bubo ascalaphus). When I realized that the nocturnal birds did not have the respect of the hunters and the association, I thought that hunting with them was the best solution to recover a certain prestige to them, and being very close to nature, I think it should be the only condition to keep the owls. I dedicate myself to the artic owls, since their life condition is very difficult, gives them a certain propensity for hunting in falconry. In addition, the difficulties they may encounter living outside their climate is a problem worthy of study as a way of improving their life in captivity. The ural owls enchanted me immediately because of their strong character and their abilities, they are little demons disguised as angels. The Pharaoh eagle owl (Bubo ascalaphus) shows a more lively behavior than the European one, and very interesting nuances related to its habitat, the desert.
How did you come up with the idea of writing your books? How did the public receive them?
The truth is that I had never thought of writing a book. In the beginning, I shared my work to help people and animals. Little by little, the demands became more and more numerous. I have even learned English so I could help people overseas. Apparently, my advice worked, and my point of view and my studies were internationally famous. There was a moment that I spent more than 5 hours a day advising people, and I realized that it was not possible to continue like this. I decided to write a book on the basis of the behavior I was trying to explain to people who asked me in the best possible way, but that was taking me a lot of time. It was a way of saving time, without having to explain everything from the beginning, and being able to concentrate on finding solutions quickly. If people did not know my way of working, that would not be possible. I did not expect it to be so successful at all, since it deals with a very restricted specialty.
What are your future plans?
Understand more and more these birds, and make them more and more understood. There is a lot of work ahead, but I think that the mentalities are changing little by little, and this is very encouraging. The birds´ well-being is my only plan for the future in this matter.
What message do you give to people who love owls?
That they learn a great deal about manning and working with birds of prey before launching themselves into such a complex bird. That they know that what they have learned will work, but that they must learn much more so that they can understand these animals with completely opposite behavior, and the most important: that they consider owls as true warriors of the night, because that is what they are.
The Book Nocturnal mind
What is most surprising in your book is the way you try to show how the mind of a nocturnal bird of prey works, especially in the first two chapters of the book when the story is told by an eagle owl. Why did you decide to start your book like that?
It took me a lot of work to find a solution to not close the doors, but at some point, I had to point out what was wrong. It was important to be able to say things without causing harm, thus leaving minds open to change. So I decided it would be better not to say this myself, but the owl. And it worked incredibly well, actually.
You say that "certain differences seem abysmal and it is obvious that traditional falconry methods need some adaptation, especially at the beginning of training." Do you believe that there is a lack of knowledge about the singularities of the owls to the great majority of falconers, and due to it they have so much prejudice against them, even calling them dumb?
Exactly, the mind of the owls works in a very different way from the mind of diurnal raptors and, indeed, of many living beings. Everything is based on the inverted main senses, and their evolution from owlets shows us that the ear is forced to be their main sense. This causes us to not be able to understand the owl´s way of acting without a great effort.
This inability leads us to make consistent mistakes. The disturbance of the owl´s hearing during daytime corresponds to the disturbance of our vision at night, it is not just a question of seeing or not seeing, it is the whole process of vulnerability that it implies. For example, if we watch a horror movie during the day, this does not affect us as it does during the night, when we can´t completely dominate our surroundings. We should train ourselves to understand this, and always consider that it is very difficult for a nocturnal bird of prey to work during the day.
Can you briefly explain the main points you need to change when training an owl?
As I said earlier, the main thing is to understand their priorities and how they work. Creating a different bond with them and rewarding confidence before they are interested in eating will give us enough space when working outdoors in the daytime. In fact, nocturnal birds of prey have a somewhat different metabolism from diurnal, they do not have crop and the urgency of nutrition is not stated quickly. It is necessary to know that a diurnal bird of prey will prefer our proximity before dying of hunger, and that a nocturnal bird of prey will prefer to starve before our proximity.
It is also important to know that for the diurnal raptor, the movement is life (escape), and for the owl the movement is death (to be seen, as their tactic is going unnoticed). For this reason, an owl refuses to move when it is afraid or worried. It is a totally instinctive reaction and we must have patience with them in an unadapted environment. The great difficulty involved in how they react and function requires that we do an earlier job based on the routine, trust and confidence of the bird under our "protection."
About hunger, you say that owls survive many days without eating, and so after a few weeks with the process of reducing their weight, they will only learn to hate their trainer. Shouldn´t we reduce the weight of owls to train them?
Of course, a little interest in eating is needed to do the constructive work, but by no means should we do this until the bird is ready to work outside. It is best to do a very respectful job until you are absolutely sure that the owl does not fear us, and this may take a long time depending on the specimen, but it is necessary because if the owl fears us and we try to reduce its weight until "Be driven by hunger," this can take many weeks, unlike a diurnal bird of prey that surrenders in very few days.
The only thing we will achieve doing this is having an owl that has learned to hate us, to be afraid of us, and that it will only jump to the glove due to desperation, and then, what? We will not have room for her to learn to work outside and during the day. In short, we should be able to fly an owl to the glove in its normal weight, and with good conditions.
You demonstrate how to train an owl raised by its parents, something that people believe to be nearly impossible. How did you create this interesting method?
When I met an owl for the first time, she gave me back the humility I felt as a child and attempted to bond with wild hawks. So I started working on it, as if I had a wild animal and that I had to convince him and show him that he could trust me.
I had many wild or battered owls at first, and little by little I improved the guidelines I respected in my childhood. It was the only way to understand them, observing and treating the most difficult ones to convince.
You explain that a key point for training and also for the welfare of the owl is the routine. Is the routine for a nocturnal bird of prey more important than for a diurnal bird?
In fact, anything that can alleviate the extreme stress that a nocturnal bird of prey suffers on our hands is important. They are extremely lonely animals and we impose company for them, they are comfortable and safe at night and we make them act during the day, their defense is to go unnoticed and we always call attention to them, etc. The routine offers a haven of peace, predictable gestures, arranged times and clear signals.
Do you think that even today many people have prejudice and fear of owls? How can we reduce this?
No doubt there are many places in this world where these birds are feared or hated for false reasons, but it is something that will be very difficult to erase. It is like the rejection by snakes and other animals that often comes from religious beliefs and is anchored almost in our genes. But these fears or manias are changing little by little. We should know these mysterious birds ourselves, so we will be able to explain to people what they are, what is their role in the world, and how they live.
In your center, you also dedicate to environmental education. How do you value the importance of this work, especially with the use of owls?
This is an important issue. Here is a real sanctuary for these birds and no public visitations are made. I visit small groups that are interested, but always when the birds are able to bear this, and at the times I determine. We do not do environmental education as commonly understood, this means we do not go to schools with birds or do public demonstrations. We never do anything that could upset or cause them harm.
In my opinion, environmental education is to make nature known to people, that people understand and respect it, to teach them what these animals are, so when I have visitors I show them what these birds really are, and in the end it's the people themselves who do not want to bother them anymore, that speak quietly, move with discretion and respect. Of course they would like to see them fly, but they understand that they already have an immense lot of luck to see an animal that would never be seen in the wild so close. They leave here with their understanding about owls increased. Unfortunately, schools or other institutions want more entertainment than environmental education, and I'm not willing to teach that owls are animals that like to be pet, that get along with people, and that feel comfortable with screams and noises.
Entrevista Anna Sanchez
Autora del Libro Mente Nocturna
Anna Sanchez es la autora del libro Mente Nocturna, y dirige actualmente el centro de Estudio Natural’Mente, dedicado principalmente al estudio del comportamiento de rapaces nocturnas. En su entrevista ella nos cuenta cómo surgió su pasión por las aves de presa nocturnas, y como debemos interactuar con ellas. Anna Sanchez se crió en Suiza, donde la cetrería no era cosa habitual. Desde niña empezó a interactuar con rapaces silvestres, y ella pasaba horas con ellas, intentando entender su comportamiento. Su primer contacto con cetreros fue cuando estaba de vacaciones en España, pero sólo cuando llegaron a España para vivir que ella empezó a formarse más en serio con la Cetrería. Después de un largo recorrido, hoy ella dirige el Centro de Estudio Natural’Mente, dedicado al estudio del comportamiento de rapaces nocturnas principalmente.
Por Kátia Boroni, para www.diariodefalcoaria.com
¿Cómo surgió su pasión por la cetrería? ¿Cuál fue su primera ave de presa?
La verdad es que nunca llegue a apasionarme por la cetrería en sí. Al tener mis primeras aves, cernícalos, que tanto conocía al estado salvaje, me encontré con un dilema. No soportaba verlos cautivos y me costaba mucho lidiar con este sentimiento. Pensando lo bien y teniendo una idea más amplia de este mundillo, entendí que estas aves, nacidas en cautividad, siempre estarían cautivas. En este momento, mi objetivo era hacerles la vida lo más cómoda posible, por lo menos en mis manos.
¿Por qué después de un primer contacto con un búho real que no tenía más vida en sus ojos, decidiste cambiar todo y dedicarte solamente a las nocturnas?
Si, un búho real que había sufrido con sus dueños anteriores muy malos tratos y que estaba con un amigo mío. En estos tiempos, las nocturnas no me llamaban la atención en absoluto, pero sentí tanta desgracia en esta mirada que me impacto. La misma noche pase horas buscando información en foros comprobando que había un problema de comprehensivo con estas aves. Decidí tomar en pensión un búho real y trabajar con él y fue como una revelación. Todo lo que había aprendido de niña interactuando con rapaces, logrando que vengan a mi llamada con horas y horas de paciencia, este vínculo tan especial que tenía con ellas, se había esfumado con la cetrería y sus métodos (no estoy diciendo que eran malos, pero que no encontraba lo que quería con ello). De golpe, con este búho, me encontré con un ser que no se dejaba maniobrar tan fácilmente, rechazando lo que un ave diurna aceptaría. Empecé a trabar un vínculo como lo hacía de niña, con mucha paciencia, prudencia y tiempo. Fue todo un éxito y me devolvió esta pasión y admiración que tenía un poco frustradas. Vi que había mucho que tratar de entender y mucho que estudiar. A partir de ahí, solo me dedique a ellas con gran entusiasmo, quería entenderlas, hacerles la vida más justa.
¿Cuál es tu especie de nocturna favorita?
El cárabo uralense, sin duda, pero también un nuevo llegado en el centro, el búho real faraón. Viendo que las nocturnas no tenían mucho respeto de los cazadores y del gremio, pensé que hacer-los cazar era la mejor solución para que recobren cierto prestigio y, siendo muy próxima de la naturaleza, encuentro que debería ser la única condición de detenerlos. Me dedique a las nocturnas nórdicas ya que su condición de vida, muy dura, les da cierta propensión para la caza en cetrería. Además, las dificultades que pueden encontrar viviendo fuera de su clima es un problema digno de estudias para mejorar su vida en cautividad. Los uralenses me enamoraron en el acto por su fuerte carácter y sus habilidades. Son demonietes disfrazados de ángeles. El búho real faraón muestra un comportamiento más vivaz que el europeo y matices muy interesantes relativos a su hábitat, el desierto.
¿Cómo surgió la idea de escribir tus libros? ¿Cómo el público los recibió?
La verdad es que nunca se me habría ocurrido escribir un libro. Al principio, compartía mi trabajo para ayudar a la gente y los animales. Poco a poco, las demandas se hicieron más y más numerosas. Incluso aprendí inglés para poder ayudar al extranjero. Por lo visto, mis consejos funcionaban y mi punto de vista y mis estudios tenían fama internacional. Hubo un momento en que pasaba más de 5 horas diarias asesorando a la gente y me daba cuenta que no era posible seguir así. Decidí escribir un libro sobre las bases del comportamiento que intentaba explicar a la gente que me solicitaba lo mejor que podía, pero me llevaba muchísimo tiempo cada vez. Fue una manera de ahorrar tiempo, sin tener que explicarlo todo desde un principio y pudiendo enfocarme en encontrar soluciones rápidamente. Si la gente no conocía mi forma de trabajar, no era posible. No me esperaba para nada tanto éxito teniendo en cuenta que una especialidad muy restringida.
¿Cuáles son sus planes futuros?
Entender y entender más a estas aves y hacer que se entiendan más y más estas aves. Queda mucho trabajo por delante, pero creo que están cambiando poco a poco las mentalidades y esto es muy alentador. Su bienestar es mi único plan de futuro en este tema.
¿Qué mensaje les dan a los apasionados por las nocturnas?
Que aprendan mucho a manipular y trabajar con aves de presa antes de lanzarse con una ave tan compleja. Que sepan que todo lo que habrán aprendido servirá, pero deberán aprender muchísimo más para poder entender estos animales con comportamiento totalmente opuesto y sobre todo que lo consideren como un verdadero guerrero de la noche porque es lo que es.
Libro Mente Nocturna
Lo que más llama la atención en tu libro es la manera como intentas mostrar cómo funciona la mente de una nocturna, incluso en los dos primeros capítulos del libro la historia es narrada por un búho real. ¿Por qué has decidido empezar tu libro así?
Me costó mucho trabajo encontrar una solución para no cerrar las puertas, pero en algún momento, debía señalar lo que se hacía mal. Era importante, poder decir las cosas sin dañar, dejando, de este modo las mentes abiertas a cambios. Entonces, decidí que lo mejor era que no lo diga yo misma, pero la nocturna. Y ha funcionado increíblemente bien, la verdad.
Tú dices que “ciertas diferencias aparecen abismales y es obvio que los métodos tradicionales de cetrería necesitan alguna adaptación, sobre todo al principio del adestramiento”. ¿Crees que a la gran mayoría de los cetreros les falta conocimientos de las singularidades de las nocturnas y de ahí tanto perjuicio a cerca de ellas, como llamarlas de cabezones?
Exactamente, la mente de las nocturnas funciona de manera muy diferente que el de las diurnas y, de hecho, la muchos seres vivos. Todo está basado en sentidos principales invertidos y su evolución desde pollo, nos muestra que el oído está forzado para ser un sentido principal. Esto provoca que no seamos capaces de comprender su manera de actuar sin un enorme esfuerzo. Esta incapacidad nos lleva a cometer errores consecuentes. La perturbación de su oído de día corresponde a la perturbación de nuestra vista de noche, no es solo una cuestión de ver o no ver, es todo el proceso de vulnerabilidad que implica. Por ejemplo, si miramos una película de terror durante el día, no nos afecta como de noche, cuando no somos capaces de dominar completamente nuestro entorno. Debemos entrenarnos a entender esto y considerar siempre que es muy difícil para una nocturna trabajar de día.
¿Puedes explicar brevemente los puntos principales al entrenar las nocturnas?
Como dicho antes, lo principal es entender sus prioridades y su manera de funcionar. Crear un vínculo diferente con ellas y premiar la confianza antes del interés a comer nos dará un margen suficiente a la hora de trabajar en exterior de día. De hecho, las rapaces nocturnas, tienen un metabolismo algo diferente que las diurnas, no tienen buche y la urgencia de nutrirse no se declara con rapidez. Hay que saber que una diurna preferirá nuestra proximidad antes de morir de hambre y una nocturna preferirá morir de hambre antes que nuestra proximidad.
También es importante saber que para la diurna, el movimiento es la vida (huir) y para la nocturna el movimiento es la muerte (ser divisado siendo su táctica pasar desapercibido). Por este motivo, una nocturna se niega a moverse cuando tiene miedo o está preocupada. Es una reacción totalmente instintiva y debemos tener paciencia con ellas en un entorno no adaptado. La gran dificultad que supone su forma de reaccionar y funcionar nos obliga a hacer un trabajo previo basado en la rutina, la confianza y la entrega del ave a nuestra “protección”.
Acerca del hambre, tú dices que las nocturnas aguantan muchos días sin comer, y por eso después de algunas semanas del proceso de bajar su peso, sólo van a aprender a odiar su entrenador. ¿No se debe entonces bajar el peso de los búhos para entrenarlos?
Está claro que algo de interés por comer es necesario para procesar un trabajo constructivo, pero no debemos de ninguna manera pasarnos hasta que el ave esté lista a trabajar en exterior. Lo mejor es hacer un trabajo muy respetuoso hasta que seamos totalmente seguros que el ave no nos teme y esto puede llevar bastante tiempo según el ejemplar, pero es necesario porque si nos teme e intentamos bajarle el peso hasta que “le pueda el hambre”, pueden pasar muchas semanas, al contrario de una diurna que cede en muy pocos días. Lo único que lograremos es un ave que ha aprendido a odiarnos, tenernos miedo y que solo hará un salto por desesperación y luego ¿qué? No tendremos margen para que pueda aprender a trabajar en exterior y de día. En definitiva, debemos lograr los saltos al puño con un ave con peso normal de buena condición.
Tú demuestras cómo se puede entrenar un búho creado por los padres, algo que la mayoría de la gente cree que es casi imposible. ¿Cómo llegaste a este método tan interesante?
Cuando me encontré la primera vez tratando con un búho, me devolvió la humildad que sentía cuando era niña y trataba de crear un vínculo con halcones silvestres. Así que empecé trabajando en este sentido, como si tuviera un animal silvestre y que debía convencerle y demostrarle que podía confiar en mí. Tuve muchas nocturnas asalvajadas o maltratadas al principio y, poco a poco, fui mejorando las pautas que respetaba en mi niñez. Era la única manera de entenderlas, observando y tratando las más difíciles de convencer.
Tú explicas que un punto clave en el entrenamiento y también para el bienestar de una nocturna es la rutina. ¿La rutina para una nocturna es más importante que para una diurna?
En realidad, todo lo que puede aliviar el extremo estrés que sufre una rapaz nocturna en nuestras manos es importante. Son animales extremadamente solitarios y les imponemos compañía, ellos están cómodos y a salvo de noche y les imponemos actuar de día, su defensa es pasar desapercibidos y siempre llamamos la atención sobre ellos, etc. La rutina ofrece un remanso de paz, gestos previsibles, horarios acordados y señales claras.
¿Crees que hasta hoy muchas personas tienen perjuicio y miedo de los búhos y lechuzas? ¿Cómo se puede disminuir este perjuicio de las personas?
Sin duda hay muchos lugares en este mundo donde estas aves son temidas o odiadas por falsos motivos, pero es algo que será muy difícil de borrar. Es como el rechazo a las serpientes y otros animales que viene, muchas veces, de la creencias religiosas y están ancladas casi en nuestros genes. Pero estos miedos o manías se pierden poco a poco. Lo mejor es conocer nosotros mismos estas misteriosas aves para poder explicar a la gente lo que son, a que sirven y como viven.
En tu centro ustedes se dedican también a la educación medio ambiental. ¿Cómo valoras la importancia de este trabajo, especialmente con el uso de nocturnas?
Esto es una pregunta importante. Aquí, es un verdadero santuario para estas aves y no se hacen visitas públicas. Hago visitar a pequeños grupos que tienen interés en hacerlo, pero siempre y cuando las aves estén en condición de soportar-lo, en los horarios que convengo. No hacemos educación medio ambiental como se entiende comunalmente, es decir que no vamos a escuelas con aves o hacemos demostraciones públicas. Nunca se hace nada que pueda perturbarlas o darles malos ratos. En mi opinión, la educación medio ambiental es dar a conocer la naturaleza a las personas, que la entiendan y la respeten, enseñar-les que son tal o tales animales, por esto, cuando tengo visitas, les enseño lo que son realmente estas aves y, al fin y al cabo, son las personas mismas que no las quieren molestar más tiempo, hablan bajo, se mueven con discreción y respeto. Claro que quisieran verlas volar, pero entienden que ya tienen una suerte inmensa de poder ver tan cerca un animal que jamás se dejaría ver en la naturaleza. Salen crecidos en su entendimiento de las rapaces nocturnas. Por desgracia, las escuelas u otras instituciones quieren más espectáculo que educación medio ambiental y no estoy dispuesta a enseñar que los búhos son animales a quien le gustan las caricias, que les va bien la gente y que se sienten a gusto entre gritos y ruido.
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